quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Escurecimento global: um problema ecológico desconhecido até agora, mas que pode ser tão grave como o aquecimento global

Oscurecimiento Global: Un problema ecológico desconocido hasta ahora, pero que puede ser tan grave como el calentamiento global 
Piero Zanatta (Revista Verano, 2006)


É fato: a quantidade de radiação solar que chega à superfície terrestre reduziu gradual e globalmente, em até 10%, devido à contaminação atmosférica, com consequências imprevisíveis para a Terra. Este fenômeno foi denominado Escurecimento Global.
Esse é um fenômeno real que, apesar de ter sido claramente observado e estudado há duas décadas, é pouco conhecido pela população, pelos governos e inclusive pela própria comunidade científica.
A combustão de fontes de energia fósseis, como o carvão e o petróleo, não gera apenas resíduos de dióxido de carbono e outros gases responsáveis pelo efeito estufa. Libera também pequenas partículas de cinza, fuligem e compostos de enxofre que refletem a luz solar ao espaço, diminuindo-a em sua viagem em direção a superfície terrestre e provocando o que se conhece como “efeito espelho”, que causa um efeito de esfriamento.
Esta contaminação atmosférica reduziu em 10% a radiação solar incidente na Terra durante os últimos 50 anos, afetando diretamente a fotossíntese, o comportamento, formação e composição das nuvens, implicitamente potencializando as secas, e o mais grave de tudo: seu efeito de esfriamento neutralizou o aquecimento global, o encobrindo, o que nos levou a subestimar o impacto do efeito estufa e os verdadeiros alcances do aquecimento global.
Os diversos relatos que se descrevem na continuação, mostram como as conclusões de diferentes cientistas em diversas partes do mundo, com métodos de medição completamente diferentes e sem se conhecerem, chegaram à mesma conclusão.
O climatólogo japonês Atsumu Ohmura foi o primeiro a intuir o escurecimento global em 1989, baseando-se na radiação solar e no balanço energético da Terra. Formou um grupo de investigadores do clima, e os resultados foram em parte a base de um informe que revelou no final dos anos 80, a existência de uma diminuição considerável da luz solar que chega a superfície do planeta com respeito ao nível de 1960, e coube a outros cientistas a tarefa de encontrar as possíveis causas.
As observações de Gerry Stanhill, especialista em irrigação em Israel, em 1992, foram contundentes: observou o fenômeno partindo de uma redução significativa da taxa de evaporação em tanque*, ou seja, a quantidade de água que evapora de um tanque exposto ao sol diminuiu progressivamente. A evaporação da água não depende da temperatura elevada no planeta nem da umidade, contrariamente ao que se poderia esperar devido ao aquecimento global. Depende sim da radiação solar direta recebida, porque são os fótons da luz que, ao impactar sobre a superfície da água, cedem energia suficiente para que estas moléculas que se encontram enlaçados por pontes de hidrogênio se desprendam do resto. Por isso, a única explicação possível a essas medições, e que recebemos cada vez menos radiação solar.
A mesma tendência foi observada e confirmada por agricultores meteorologistas de todo o mundo, mesmo com variações para cada região, a redução da evaporação era clara e progressiva.
Outros estudos reforçariam ainda mais tais conclusões, por meios completamente diferentes. Experimentos realizados no arquipélago das Maldivas, comparando a atmosfera das ilhas situadas ao norte com as do sul, mostraram que os efeitos contaminantes da atmosfera daqueles dias, provenientes do norte desde a Índia, produziam uma redução aproximadamente 10% da luz solar que alcançava a superfície na zona abaixo da nuvem contaminada. Isso que sugere uma redução bem maior do que a esperada somente pela presença de partículas contaminantes. Antes de fazer tais investigações, as previsões apontavam que os aerossóis antrópicos (partículas contaminantes suspensas) contribuíam para o efeito em apenas entre 0,5% a 1%. A enorme variação observada contra a previsão se explica porque na formação de nuvens contaminadas as partículas agem como núcleos de condensação de um número maior de gotas, ainda que de menor tamanho, criando novas nuvens, que são mais eficazes refletindo a luz de volta ao espaço.
Por outro lado, um grupo dirigido por Martin Wild no Instituto Federal de Tecnologia Suíço em Zurique, sede do arquivo da BSRN (Baseline Surface Radiation Network), começou uma investigação mediante um rastreamento de medidas e cálculos conduzidos pelo Programa de Medidas da Radiação Atmosférica. Essa pesquisa crucial, já que revela que a superfície do planeta aumentou a luminosidade em 4% durante a década passada. Esta tendência ascendente do brilho planetário está corroborada por diversos dados, inclusive várias analises por satélite. O que confirma que a contaminação das partículas suspensas nas nuvens faz que estas reflitam mais a luz solar que as nuvens limpas devolvendo ao espaço e aumentando o brilho planetário.
Anos depois, foram feitas outras investigações sobre um acontecimento muito esclarecedor, que viria a demonstrar o que se esperava:
Após os atentados às torres gêmeas de 11 de setembro, se fechou o espaço aéreo estadunidense, o que diminuiu consideravelmente as trilhas de fumaça altamente contaminante dos reatores que os aviões deixam, e que formam as nuvens refletoras (por se tratar de um resíduo da combustão de um hidrocarboneto, ou seja, um combustível fóssil). Nos 3 dias seguintes se incrementou a temperatura média em 1,2° centígrados em todo o país, o que não se observava há décadas.
Recentemente no congresso anual da União Geofísica Americana em Montreal, uma parte da comunidade científica expôs pela primeira vez a gravidade do assunto de maneira oficial e mundial, mostrando sua importante preocupação, pois apenas agora se está tomando consciência de que o escurecimento global é uma terrível realidade.
Mais que provavelmente, o escurecimento global pode ter causado mudança em grande escala nos padrões climáticos, já que seu impacto é diverso.
Ao haver menos radiação solar, há menos evaporação da água e menos formação de nuvens, e por consequência menos precipitações, agravando mais as zonas áridas já afetadas pelo aquecimento global; e para que estas produzam as colheitas desejadas requerem mais energia, que contamina ainda mais, e esta energia é menos disponível pela baixada de represas, fechando o ciclo vicioso.
O escurecimento global está afetando o ciclo da água e o comportamento das nuvens em geral. Os modelos climáticos interferiram na falta de monções na África subsaariana durante os anos 1970 e 80 que provocaram as graves crises e fome. Por um momento se culpou o desmatamento e a má gestão de terras, hoje se sabe e considera-se uma pequena mostra do pode ser o escurecimento global.
A composição da atmosfera e das nuvens está mudando, transformando-se em um espelho refletor que reduz a passagem da luz solar, afetando também a fotossíntese de toda a vegetação planetária já que o fenômeno é global.
Pusemos em xeque o ecossistema do nosso planeta; enquanto o aquecimento global provoca mais chuvas nas zonas úmidas e mais secas nas zonas áridas, o escurecimento diminui as precipitações, reforçando ainda mais as secas, o que é muito grave para as zonas áridas. E, por outro lado, esfria o planeta, o que por hora tem nos ajudado ao que o aquecimento global tem mostrado apenas uma máscara amável. Porem se deixarmos de emitir a contaminação que tira a transparência da atmosfera, liberamos a cara feroz e real do aquecimento global.
As medidas impostas nos últimos anos na União Européia ajudaram a diminuir as emissões de partículas em indústrias e automóveis melhoraram a qualidade do ar. Mas infelizmente, o aquecimento global deixou os verões calorosos, principalmente o de 2003 com número recorde de mortalidade na França, incêndios por toda a Península Ibérica, especialmente em Portugal de norte a sul, graves secas na Espanha e inundações em vários países na União.
Podemos estar politicamente divididos, mas ecologicamente estamos entrelaçados. A natureza entende de divisões e se comporta como um todo; O que uma parte contamina afeta a outra; a irresponsabilidade de um indivíduo, um grupo, ou um país afeta a todos nós.
O objetivo deste artigo não é preocupar, e sim mostrar o que acontece para poder prevenir, tomando medidas e decisões responsáveis, se é que ainda temos tempo.
Devemos ir à origem do fenômeno para poder solucionar o problema definitivamente: Não podemos continuar queimando combustíveis fósseis de maneira completamente irresponsável, como até agora, para satisfazer nossas necessidades energéticas. Temos que produzir apenas resíduos biodegradáveis para a natureza sem alterar seu equilíbrio natural e, ainda, conseguir que isso seja economicamente viável. Porém, mesmo que conseguíssemos, talvez já seja muito tarde, pois os combustíveis fósseis estão dando mostras claras de esgotamento; está chegando ao fim por não ser renovável e seu preço não deixará de subir.
Evidentemente para satisfazer a demanda energética temos que optar por fontes limpas, perpetuamente disponíveis e viáveis, como a solas, eólica, biomassa, maremotriz, geotérmica, micro hidráulica, etc.
Já no caso do transporte é preciso fazer plano de mudança urgente para deixar de fabricar novos carros e aviões que se abasteçam com hidrocarbonetos substituindo por bicombustíveis (que já existem). E para os carros velhos, obrigar o uso de catalisador que poupe combustível, aumente a potência e reduza os gases.
Em vez de investir quantidades astronômicas em centrais nucleares - apenas pelo desejo de poder dos monopólios que continuemos a pagar um valo mensal, sem nenhum escrúpulo - que nos tirariam do problema do petróleo e demais fontes fósseis, para nos meter em outros problemas muito piores, deveriam investir em desenvolver a fonte de energia mais promissora, abundante e limpa conhecida até agora: o hidrogênio, com capacidade de abastecer todo o consumo necessário do planeta.
Deste jeito solucionaríamos o escurecimento global e mais: contribuiria em grande parte a solucionar o aquecimento global e se melhoraria a saúde e o equilíbrio geral da Terra.
A solução já está em nossas mãos, as fontes de energia limpas e inesgotáveis são realidade e estão ao nosso alcance, exijamo-las!

Tradução: Carine S. Albano      


* Gerry Stanhill, na verdade, observou o escurecimento através de medições da quantidade de radiação solar incidente em Israel, num intervalo de 20 anos. Os responsáveis por medir a taxa de evaporação em tanque, e que detectaram a redução desta, foram Graham Farquhar e Michael Roderick.


Nenhum comentário:

Postar um comentário